Saudações! Chegamos, enfim, à última parte deste atipicamente
grande post (podem carregar aqui para a parte 2 e aqui para a parte 1)! Portanto…iupi? Viva? Não sei, depende da perspetiva.
Bom, mas vamos diretos ao assunto. Como se devem lembrar, esta
última parte almejava referir ainda outra perspetiva a partir da qual é
questionável a opinião que tanto foi esmiuçada nas partes 1 e 2: a tal opinião
de que as crianças de agora não veem nada de jeito. Não há grande novidade até
agora, já trouxe à baila essa opinião muitas vezes para evitar confusões. Mas
se nas partes 1 e 2 questionei essa opinião através de boas opções que as
crianças de agora têm e/ou das formas variadas que essas crianças têm de aceder
a muitos desenhos animados, nesta parte 3 vou utilizar uma, digamos, “ferramenta”
completamente diferente: a abordagem à forma como vários humanos pensam no passado em si. Neste sentido, pergunto…e
se a forma como vemos o passado fosse inesperadamente condicionada por uns "óculos" que distorcem um pouco a forma
como se vê o referido passado?
Imagino que já tenham ouvido algo semelhante. Bem, eu acredito
bastante nessa perspetiva, embora não de maneira extremista. E embora as provas
que apoiam esta perspetiva sejam mais para o circunstancial e não propriamente provas irrefutáveis obtidas em laboratório ou semelhante, acho que é muito provável que tenha muito
de verdade. Por exemplo, já ouviram dizer que, geralmente, só passam para as
gerações vindouras a melhor parte da cultura e que o menos bom é deixado para
trás? Claro que não é assim tão linear, mas sei lá…quando se diz que as
crianças de antigamente só viam programas bons porque existiam o Dragon Ball ou
Os Cavaleiros do Zodíaco (ah, como eu gostava…aquelas armaduras eram tão
apelativas!), é um bocado obrigatório perguntar: mas era só isso que existia? Acho
que é claro que não. Havia mais desenhos animados. Tudo bem que não havia
tantos canais à disposição e podia haver mais programas com kids in mind, mas
que havia outras opções além dessas duas, havia. Mas seriam opções tão boas
como os dos superguerreiros ou o dos cavaleiros? Discutível…mas provavelmente
não. E é muito provável que, por não serem tão bons, não tenham tido tão boa
receção por parte das crianças. O que também explica parcialmente a razão pela
qual esses têm poucas ou nenhumas reposições na TV.
E não, este debate não é novo; já há um bom tempo que se fala do
quão fácil é cair na “armadilha” de pensar que a arte atual é bem pior do que a
arte de outros tempos. É verdade que por vezes parece ser óbvio, mas se virmos
que, de facto, a maioria do que nos chega de décadas anteriores é o melhor que
essa década tem para dar e que, vivendo na década atual, estamos expostos ao
bom e ao mau atual, faz sentido pensar que nem tudo o que parece óbvio é. Como
Nuno Markl observou com alguma graça quando lhe disseram que crescer com a
música dos anos 90 devia ser fantástico, os anos 90 tiveram os Nirvana mas
também tiveram músicas como I’m Blue e Barbie Girl (que, atenção, são músicas
de que eu até gosto…e podem-se talvez considerar clássicos do seu tempo, mas
não são conhecidas por serem músicas requintadas).
- Arbustos? Que tem isso a ver com o post?
- Que foi? O Sr. Markl disse que não ofendem ninguém! ;)
Portanto, lá está. Da mesma forma que se pode não apreciar certos programas atuais quando
se quer considerar as décadas anteriores como muito melhores, não se pode ter
só em conta pokemons ou digimons ao julgar essas décadas; também é preciso colocar na balança os outros
desenhos animados que foram aborrecidos e/ou nada memoráveis. E aqui, eu não
posso dar nomes, porque justamente por esses programas não serem memoráveis, eu
não me lembro deles. E certamente que não posso usar nenhum (ou quase nenhum)
exemplo aqui do blog, porque geralmente ele só fala de programas de que eu
gostei. Mas enfim…acho que toda esta ideia de como é fácil ser enganado pela
nostalgia é uma ideia bastante razoável. Ou, pelo menos, com argumentos de
alguma lógica.
E já que voltou a palavra “nostalgia”…convém lembrar também que a
nostalgia é praticamente um sentimento. E, como sentimento agradável que é –
pelo menos no geral –, sentir nostalgia dos programas de outros tempos é uma
experiência mais emocional do que racional. O que torna mais provável que achar
que as crianças de agora não veem nada de jeito seja um pensamento mais
subjetivo do que objetivo. E, acho, convém não cair nessa rasteira, digamos
assim.
- Alguém falou em rasteira?
- Tecnicamente, não falei, escrevi...
Ah, e…se acreditarem num link que eu cá sei(podem não acreditar, pois este
site não é exatamente aquele que os professores recomendam aos alunos…embora
também tenha informações corretas), podem constatar como as memórias não são
um fenómeno são isento e/ ou imparcial como poderão eventualmente pensar. O link: http://en.wikipedia.org/wiki/Autobiographical_memory#Positivity_effect
Mas atenção, muita atenção: toda esta enchente de palavras não significa
que alguém que defenda a opinião tão esmiuçada neste post de 3 partes esteja
exatamente errado. Até porque, bem, a qualidade de desenhos animados está longe
de ser algo mensurável. Quer dizer, não há grandes provas de laboratório que se
possam arranjar para provar algo assim. Nem uma escala. Nem estudos de 200
páginas. Além disso, se uma pessoa que tiver a referida opinião e souber
defendê-la como deve ser e/ou sem ódio cego, aplaudo metaforicamente esse
feito. Mas, precisamente porque essa crítica não me parece muito informada,
escrevi tudo isto. Tenho a sensação de que essa crítica, apesar de poder
hipoteticamente ser feita com algum dolo, nasce bastante de uma grande falta de
conhecimento. E, se realmente este longo post ajudar algumas pessoas a ter
menos (ou nenhuma) pena das crianças de agora por não verem nada de jeito, acho
que isso é bom. Posso estar enganado, mas acho que é bom.
E…e pronto! Suponho que está concluído este longo texto (longo
para os padrões deste blog, bem entendido…) a defender esta minha teoria. Que
aproveito para parafrasear: não vale mesmo a pena ter pena das crianças de
agora por não verem nada de jeito. Nem acho que isso tenha grande reflexão na
realidade.
E enfim, é isto. Se tiver acontecido aquilo que eu desconfiava que
era um risco – ou seja, se eu tiver mexido negativamente nos sentimentos de
alguém – lamento e espero que não me odeiem muito. :P Não acho que tenha
cometido um grande crime, mas também não tenho por hobby andar a aborrecer
pessoas que nem conheço pessoalmente.
Último, mas não menos importante: tenham um bom dia!
(Parte 3)(comentário 4/4 pois não podia enviá-lo na íntegra)
ResponderEliminar-”de pensar que a arte atual é bem pior do que a arte de outros tempos.”os desenhos animados é um fenómeno recente como qualquer arte cinematográfica, o cinema apenas surgiu no final do século XIX. Em relação a artes como a pintura, escultura eu prefiro a contemporânea, por exemplo mas sem dúvida que em muitos fenómenos humanos prefiro o que se fazia antes.
- também é preciso colocar na balança os outros desenhos animados que foram aborrecidos e/ou nada memoráveis. Sem dúvida! Por exemplo eu não gosto do Dragon Ball nem dos Cavaleiros do Zodíaco. São alguns exemplos!
-Evidentemente que a escolha do bom, do mau é invenção. Não há bom e mau.
- Muito interessante, não costumo ver pessoas que prefiram a escultura contemporânea.
Eliminar- Pois é, eu acredito mesmo em colocar na balança os vários fatores, acho que só assim se pode almejar fazer uma análise minimamente boa e/ou objetiva. Só tenho pena que não goste de Os Cavaleiros do Zodíaco...mesmo atualmente, acho que era um programa muito intenso e com batalhas épicas, por isso creio que se eu tivesse oportunidade de rever, continuaria a apreciar o programa.
- Sim, eu acredito em grande parte que o bom e o mau não funcionam como uma dogma; são mais subjetivos.