Olá a todos. Hoje, seguimos com aquilo a que eu chamo a
minha defesa das crianças de agora quando as acusam de não verem nada de jeito.
A primeira parte desse texto está aqui, mas se bem se lembram, tínhamos deixado
no ar esta dúvida: as pessoas que defendem essa ideia defendem-na por acharem
que já não existem canais que dão atenção às crianças? Ou uma ideia
semelhante?
Ora bem, se de facto há quem ache que as crianças já não
veem nada de jeito por não existirem canais dedicados a elas, também não me
parece que isso faça muito sentido. Mas primeiro pensemos no que leva alguém a
pensar assim. Será que pensam que os canais mais clássicos (RTP, SIC e TVI?) já
não lhes prestam atenção? É uma possibilidade. Afinal, para alguns, é possível que
o simples facto de o Dragon Ball já não passar na SIC seja suficiente para
afirmar isso. E, note-se, já vi uma pessoa usar um argumento para alegar que os
canais já não queriam educar os mais novos que consistia no seguinte:
(parafraseando) “A Rua Sésamo passava no horário em que atualmente passam os
Morangos com Açúcar.”. Interessante. De facto, assim, parece que temos uma
prova contundente. Mas…teremos? Tenho as minhas dúvidas.
Eu não presto porque
não estou à procura de 7 bolas de cristal?
Repete, se tens coragem!
Antes de mais, duvido seriamente que no meu tempo (por
exemplo) existissem mais canais com os kids in mind do que atualmente. É que no
meu tempo, a televisão por cabo ainda era um pouco uma novidade. E por muito
que seja um pouco injusto considerar a televisão por cabo como algo que toda a
gente tem atualmente – é uma generalização abusiva que discrimina um pouco os
cidadãos com menos recursos –, partamos do princípio que 4 em cada 5 crianças
têm acesso à televisão por cabo (ou TDT, se a expressão se adequar) atualmente.
Quem tem mais opções, as crianças de agora ou as de décadas anteriores?
Suspeito que seja o primeiro grupo…senão vejamos: uma criança com acesso à
atual panóplia de canais que os pacotes de canais oferecerem tem acesso a
muitos dos seguintes canais com os kids in mind:
Baby First
Canal Panda
Cartoon Network
Disney Channel
Disney Junior
Nick Jr. Channel
Nickelodeon
Panda Biggs
Sic K
Super RTL
Tiji
Lista grandinha, não? E agora, pergunto eu, esta oferta
toda algum dia se compara à oferta dos famosos 4 canais? Quer dizer, temos aqui
uma lista como esta de canais que são literalmente feitos para uma audiência infantojuvenil.
Que hipóteses têm os 4 canais, ainda para mais sabendo que esses também têm
dezenas de programas para adultos? Alguns dos quais as crianças não podem ver,
note-se…(refiro-me àqueles com a circunferência vermelha no cantinho). E, volto
a frisar, no meu tempo não havia Panda Biggs. Nem Disney Junior…enfim, acho que
se percebe que as crianças agora têm tendência a ter uma oferta
incomparavelmente maior do que a que teriam há uns anos.
Há ainda outro pormenor/“pormaior” que importa sublinhar: o
próprio Cartoon Network, que já existia quando a televisão por cabo ainda era
uma novidade, estava longe de ser tão acessível às crianças como é agora.
Porquê? Porque praticamente todos os desenhos animados que lá passavam estavam
em inglês. Em inglês sem legendas! Era só as personagens a falar inglês sem
qualquer tipo de auxílio para uma criança perceber o que se estava a dizer. Em
contraste com o que acontece neste momento, em que praticamente tudo o que é
programa que passa no CN aparece com uma caprichada dobragem portuguesa. Ah,
pois é. Se gostam ou não da dobragem é outra história; podem sempre não
gostar…ainda que tenham uma variedade considerável. Afinal, têm dobragens com
equipas de dobradores mais modernas e têm outras com equipas de dobradores
clássicas. A dobragem portuguesa que o CN usa d’O Laboratório do Dexter, por
exemplo, é a mesma que eu ouvia quando era criança e os 4 canais passavam o
nosso amigo Dexter (com vozes de Henrique Feist, Cristina Cavalinhos e outros).
- Ei, Dexter, não
serás o Doofenschmirtz em pequeno?
- Estás a chamar-me
anão de jardim? É por eu ser baixo?
Mas será que isto não chega para quem acha que as crianças
de agora não veem nada de jeito? Será que, mesmo tendo tantos canais a pensar
nos mais novos, têm de ser forçosamente os 4 canais a voltar a dedicar-se às
crianças? Sei lá, com programas como Disney Kids, Batatoon e afins? Bom, aí
tenho pouco a dizer; com efeito, que seja do meu conhecimento, esses programas
não voltaram. Mas se a memória não me falha, nos anos 90 a RTP2 não tinha um
Zig Zag a passar um número elevado de desenhos animados diferentes durante
horas a fio.
Ou será que o, aham!, “problema” não são os 4 canais, mas
sim a falta de programas específicos? Será que é a falta daqueles programas
classicíssimos que cerca de 9 em cada 10 pessoa da minha geração está sempre a
citar? É isso que falta? É que se é, eu pergunto genuinamente a quem pensar
assim: fazem alguma ideia do quão esses desenhos animados têm andado a ser
repostos? As reposições também contam, e nos últimos anos eu lembro-me (sem
pensar muito) de terem sido repostos programas tão clássicos como Digimon –
sim, o original! – e As Navegantes da Lua no Canal Panda e Dragon Ball na SIC
Radical. E deve haver mais reposições assim, eu é que não estou a par de
todas…mas como a nostalgia vende bem no geral, acho que é provável que haja
pelo menos mais uma.
Uma crítica com poucas
bases corre o risco
de se espalhar como
um vírus mortal!
E nem me ponham a falar das outras formas que as crianças de
agora têm para ver desenhos animados. É que o televisor é só uma hipótese; há
mais hipóteses que, lá esta, não tinham sido inventadas nos anos 90. Estou a lembrar-me daquela piada recentemente proferida por José Diogo
Quintela: “Ver televisão na televisão, que ideia tão parva!”…
Mas enfim, as minhas fórmulas para iniciar parágrafos estão
a esgotar-se, por isso acho melhor a parte 2 ficar por aqui. Porém, este post é
composto por 3 partes. Portanto, falta uma, pois…lá acabará por ser colocada. A próxima parte vai extravasar um
pouco o mundo da televisão. Por isso não percam o próximo post…porque nós também não! XD
(continua na parte 3)
(continua na parte 3)