sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Nome Desconhecido (Toni, a Formiga?)

Imagens/vídeos: 



Informação: Em retrospetiva, é curioso e talvez até bizarro que tantos desenhos animados que passavam no Batatoon estejam tão esquecidos. Quer dizer, tanto quanto sei, o Batatoon é um programa lembrado por muitos...por vezes até por quem não acompanhou o programa. Enfim; se é verdade que o Batatoon foi um grande êxito no seu tempo, também o é que muita gente só se lembra de uns poucos desenhos animados que passavam no programa do palhaço Batatinha (os melhores, quiçá...) e esquece os restantes. Este das formigas é mais um dos esquecidos que passou no Batatoon, porque ou muito me engano ou passou no ecrã desse programa após o Batatinha ter o comando na mão e carregar no botão...

O nome original deste programa parece ser "Anthony Ant", embora eu não me lembre minimamente do título lusitano. De qualquer forma, o protagonista não se chamava Anthony cá em Portugal; chamava-se Toni e todos os seus amigos pronunciavam "Tóní" e não "Tóni". O Toni vivia várias aventuras animadas com o seu grupo de amigos e, se bem me lembro, todos eles gostavam de andar de skate. Ainda assim, cada um deles tinha um interesse que apreciava mais do que o skate. O Kevin, por exemplo, gostava de fazer malabarismos com bolas ou com quaisquer objetos que fossem fáceis de atirar ao ar. Outra das formigas gostava muito de comer. E depois havia outras personagens secundárias que apareciam de vez em quando, como o avô do Toni e uma formiga com um daqueles chapéus de explorador (como o que o Tintim usou no álbum Tintim no Congo). Ah, e já que falei em chapéus: todas as formigas deste programa usavam qualquer coisa na cabeça. O Toni usava um boné vermelho, qual TJ do programa Recreio. Os amigos dele usavam bonés de outras cores ou coisas como gorros ou fitas. Não sei porque é que puseram tantas personagens a usar algo na cabeça...se tivesse de dar um palpite, diria que era para o público se identificar mais facilmente com as personagens. Afinal, ao usar chapéus, elas lembravam mais facilmente os humanos do que lembrariam se "só" tivessem antenas no cocuruto. 

Curiosamente, até os vilões usavam algo na cabeça...no caso dos 2 ajudantes tolos, eram capacetes. A meu ver, os vilões eram um dos destaques deste desenho animado. O principal vilão era um tal Conde Mosquito, que tinha a voz de Jorge Paupério. O Conde usava uma espécie de capa ou manto e dava muitas missões maléficas aos tais 2 ajudantes tolos. Estes eram o Nate e o Buzz e, como é costume neste tipo de personagens, estes 2 eram facilmente enganados pelos heróis e faziam muitas tolices. Por vezes os vilões tinham o dia quase ganho e, à última da hora, o Nate e o Buzz deitavam tudo a perder por se distraírem com facilidade ou por serem uns grandes trouxas. Outro dado interessante deste desenho animado é que os insetos, dia sim dia não, tinham de interagir com uns seres gigantescos com sapatos muito perigosos! Esses seres gigantes, como devem calcular, eram os seres humanos. Estes humanos nunca eram vistos a falar e nem sequer se via a cara completa de nenhum deles. Isto fazia com que os humanos, a quem as nossas formigas chamavam Pé Grande, parecessem mais assustadores e completamente insensíveis aos sentimentos alheios. E os tais pés grandes punham muitas vezes as formigas e os seus amigos em perigo, quer com os pés pisadores de criaturas minúsculas, quer por não as verem e lhes acertarem com alguma coisa. Felizmente, por vezes, as formigas até beneficiavam da interação com o Pé Grande. Às vezes até ganhavam alimento para um ano quando o tal Pé Grande deixava cair comida ao chão!

Alguns episódios
- As nossas amigas formigas falam e concluem que se esqueceram do aniversário do Billy, o seu compincha mais novo. Enquanto elas pensam em como resolver isto, um "Pé Grande" passa e deixa cair umas gomas coloridas. As formigas não sabem bem o que fazer com aquilo, mas de repente o Billy aparece e o Kevin tem a ideia de fingir que as gomas eram o presente que eles compraram para o aniversário do Billy! A ideia até funciona bem, pois o Billy gosta das gomas porque diz que cheiram bem, sabem bem e que dão para trepar porque são pegajosas. O problema é que depois o tal pé grande vem recolher as gomas e o Billy é levado na voragem. Ups! (alerta de spoilers: no fim do episódio, eles trazem o Billy de volta)

- Num episódio cheio de frio, as formigas daquela área enfrentavam uma espécie de frente fria causada por...não sei bem o quê. ¯\_(ツ)_/¯ O certo é que a situação não era só desconfortável; estava mesmo a dificultar o quotidiano às formigas. Elas tentavam organizar-se e reunir-se para lidar com a situação, mas não conseguiam muito. Mas o Conde Mosquito não parecia interessar-se muito pelo assunto. Mais tarde, as formigas descobriram porquê: ele tinha uma espécie de túnel privado onde circulava muito calor e o vilão passava um bom tempo lá. Inclusive, quando as formigas o descobriram, o Conde Mosquito estava confortável a tomar uma banho quente, ignorando as formigas com frio lá fora. Quando o descobriram, o Conde nem teve remorsos e limitou-se a protestar: "Como é que vocês se atrevem? Eu estou a tomar banho!". O avô do Toni respondeu logo algo como "Como é que você se atreve a manter segredo desta câmara quente enquanto todos congelam lá fora?!". E assim foi...pouco depois, as formigas tinham arranjado uma forma de canalizar o calor do tal túnel/câmara para a superfície, ajudando a aquecer as coisas. E o Conde foi, digamos, "voluntário à força" para fazer um trabalho manual que essa canalização exigiu.

- Este episódio parecia um tipo de paródia à clássica história da Bela Adormecida...nele, o avô do Toni ficava doente e o seu filho rapidamente identificou a doença como sendo uma tal "febre do borbulho". Os sintomas da doença andavam entre o expectável e o surreal; se por um lado o avô tinha delírios, como os que as febres podem causar, a doença também o fazia ficar com manchas de todas as cores e depois com riscas coloridas que lhe cobriam o corpo todo, como se fosse um arco-íris ambulante! Enfim...as formigas não sabiam como o tratar, por isso imploraram à feiticeira má lá do local que salvasse o avô. Essa feiticeira, apesar de costumar ser contra as formigas, lá concordou em ajudar. E aqui veio a parte da paródia à Aurora: a cura mágica que a feiticeira conseguiu amanhar foi um beijo mágico. Isso mesmo; depois de aplicar um batom mágico (acho...), ela beijou o avô e ele melhorou num instante. Quando voltou a si, começou logo a protestar por a vilã estar em casa dele, mas eles lá lhe explicaram que ela lhe tinha salvado a vida. O avô, embora relutante, fez questão de agradecer à feiticeira.

Uma(s) voz(es): Clara Nogueira; Edgard Fernandes; Jorge Paupério; Paula Seabra; Sissa Afonso

Uma(s) personagem(ns): Arnold; Billy; Buzz; Conde Mosquito; Kevin; Nate; Pé Grande; Toni

Genérico: Instrumental

domingo, 29 de outubro de 2023

Em Memória de Joel Constantino

Pela segunda vez, venho aqui ao blog lembrar uma pessoa que partiu e que trabalhou no mundo das dobragens em Portugal.
Alguém que, da minha perspetiva, era uma LENDA das dobragens:
Joel Cândido dos Santos Constantino.

(De acordo com a Wiki Dobragens Portuguesas, Constantino faleceu neste ano 2023, já no mês de Abril. Porém, eu só soube recentemente. Sendo assim, mesmo com atraso, deixo aqui qualquer coisa como o meu in memoriam.)

Tal como da outra vez que fiz um post assim, não conheci pessoalmente o dobrador em questão, portanto não faço ideia de como Joel Constantino era como pessoa. Mas, no que toca ao lado profissional, não é exagero nenhum dizer que era um dos meus dobradores portugueses de eleição. Top 5, muito provavelmente. E isso quer dizer muito num país como este, tão cheio de belas dobragens e ainda mais belas vozes. E se é verdade que a voz do sr. Constantino não foi tão omnipresente na minha infância - e na de muitos mais, aliás... - como a de Carlos Freixo, a de José Raposo ou a de Sissa Afonso, também o é que, desde muito novo, houve qualquer coisa nas vozes que Joel Constantino fazia que as tornaram mais memoráveis para mim.

Imagem disponibilizada pela edição online do jornal O Templário.
Joel Constantino no centro.

É certo que se pode questionar se era a voz do dobrador per se que era assim tão marcante ou se parecia mais marcante do que era devido à grande importância que algumas das suas personagens tiveram para mim. Bom, é possível, e eu também não sou imune a outros vieses como os que a nostalgia traz. Contudo, este assunto daria pano para mangas, portanto prefiro não me alongar sobre este assunto; deixo só aqui esta salvaguarda. Posto isto, a quantidade de personagens que Joel Constantino dobrou que são incontornáveis para mim é alta. E gostaria de falar um pouco sobre elas.

Quando penso no nome Joel Constantino, penso imediatamente no Gaspar. Sim, o Gaspar do programa O Jardim da Celeste. Esse programa foi sem dúvida um dos mais importantes dos meus primeiros anos de vida e o Gaspar sempre foi uma das minhas personagens favoritas dessa obra. Ainda que o Sócrates pudesse ser mais divertido ou a Olívia ser mais uma fonte de cenas memoráveis, o Gaspar era para mim aquela personagem da qual eu ia gostar em quase todas as cenas com ele. O moço era um pouco como a criança ideal: simpático e afável mas ligeiramente precoce e com uma certa dose de maturidade pouco comum para alguém tão novo (provavelmente causada pelo facto de o Gaspar ajudar regularmente os seus pais na quinta onde cresceu, o que levava o pequenote a ter uma maior consideração por todos os seres vivos - sim, animais e plantas incluídos - e uma melhor preparação para a vida em comunidade e para a luta pelo bem comum). Talvez por todas estas características, o Gaspar deve ter sido a personagem do Jardim da Celeste que menos problemas (ou desafios, talvez?) causava na carrinha da Celeste. Era provavelmente a marioneta que menos se zangava e menos fazia alguém zangar-se. E, também por ser tão impecável, o Gaspar inspirava-me. Ele mostrava-me mais sobre como ser boa pessoa. Eu sentia-me inspirado e acabava com mais vontade de melhorar. Um belo feito para uma "simples" personagem de um programa direcionado aos petizes.

O Gaspar tinha uma voz um pouco fininha, ligeiramente parecida com a do Tico. Refiro-me ao Tico de A Volta ao Mundo de Willy Fog, outra personagem inesquecível da minha infância. O Tico, amigo do Bigodão, era um ratinho dinâmico que agia quase como um alívio cómico numa história que era um pouco séria. Era muito agradável ouvir aquela vozinha levemente esganiçada - no bom sentido - a acrescentar uma dose de humor à viagem pelo mundo e a mostrar curiosidade por muitas coisas.
Neste momento, alguns leitores poderão não concordar muito comigo pois, da sua perspetiva, a identidade do Tico não está ligada a Joel Constantino, mas a Irene Cruz. E sim, acontece várias vezes: uma personagem é apresentada, em diferentes momentos da História, com vozes diferentes. E depois cada um prefere a sua. O mesmo não se pode dizer do Max, personagem dos Tweenies. Afinal, até hoje, só foi feita uma dobragem oficial dos Tweenies...sendo assim, não há "concorrência" e todos os que viram o programa britânico se deverão lembrar do Max com a voz de Joel Constantino. E ainda bem, porque era muito boa. Era uma personagem bem mais velha do que o Gaspar e o Tico e a voz do boneco refletia isso mesmo. O Max, assim com a Judy, era um belo apoio para os jovens Bella, Milo, Fizz e Jake, pois era um adulto que lhes ensinava umas coisas sobre como lidar com emoções negativas e como gerir conflitos. Tweenies era um programa bastante educativo, e foi pela agradável e inolvidável voz do Max que muitos ouviam lições valiosas. E bem me lembro do Max a cantar canções bem alegres, como aquela "Que posso fazer com este cabelo?". E a contar história como a do Pernas Para que te Quero.

A descrição deste vídeo diz justamente
"Em memória de Joel Constantino".

Porém, as personagens que eu referi até agora são aquelas das quais eu, pessoalmente, me lembro mais. E muita gente poderá não as conhecer. Bem, se vos facilitar a vida, posso dizer-vos que Joel Constantino cantou pelo menos uma canção que diferentes gerações terão facilidade em identificar. Aqui vai: Joel Constantino cantou nada menos do que...o tema de abertura de Bob, o Construtor! Ah, pois é! Sempre que alguém usa essa música numa qualquer cerimónia de jardim de infância ou sarau de escola, é a saudosa voz de Joel Constantino que estamos a ouvir! E sempre que alguém canta uma paródia para maiores de 12 dessa mesma música...bem, nesse caso não é a voz do dobrador que estamos a ouvir, mas de certa forma estamos a ouvir algo que só chegou a nós através do cantar de Joel Constantino. Afinal, se o dobrador não tivesse feito um belo trabalho a cantar o tal tema de abertura do desenho animado, quase ninguém se lembraria da canção, sequer.

Resta eu arriscar descrever a voz de Joel Constantino. Ou, pelo menos, a voz como eu a costumava ouvir na televisão, não é? Bem, é mesmo difícil descrever...a primeira palavra que me ocorre é "agradável". O sr. Constantino dava muitas vozes que, sem ser uma voz daquelas que faz uma audiência inteira voltar-se para ver quem está a falar, era muito agradável de se ouvir...fazendo novamente o paralelo do tio, eu diria que ouvir a sua voz era como ouvir aquele nosso tio que, mesmo não sendo uma das pessoas mais mencionadas da família, é sempre afável, muito diplomático e sabe dar conselhos de vida muito bons e recheados de sobriedade e de razoabilidade. Um tio discreto, mas nem por isso menos importante...esse tipo de tio. Pelo menos era isso que a voz me sugeria. Já quando Joel Constantino fazia vozes mais fininhas para personagens mais novas ou de tamanho reduzido, a sua bela voz soava (ainda) mais divertida e, em termos meramente descritivos, talvez um pouco mais "arranhada". Mas era um arranhado agradável de ouvir e que trazia alegria. E creio que é justo dizer que, nesses casos, o ator soava efetivamente mais novo do que a idade que realmente tinha.

Uma palavra ainda para um nicho extremamente recôndito da dobragem: a dobragem de personagens de jogos de PC em CD-ROM. Neste nicho do qual poucos se lembram, Joel Constantino deu voz a uma personagem importante para algumas pessoas. Qual? O Professor Isca Leto, do jogo A Aventura do Corpo Humano! Ah, a nostalgia...

Este vídeo insiste muito no jogo Dia-a-Dia.
E ainda bem, porque esse era o meu favorito! :)

Entre as dezenas de papéis que Joel Constantino desempenhou no seu trabalho de dobrador, é difícil fazer uma lista pequena para tentar reunir outros dos seus papéis mais marcantes. Mas é bem possível que alguém que veja esta lista reconheça algo nela. Cá vão, então, mais algumas obras às quais o dobrador emprestou a sua voz:

Animaniacs
Barbie: Princesa Rapunzel
Contos de Grimm
Hey Arnold!
Power Rangers: Turbo
Puzzle Park
Rua Sésamo
Samurai X
Teletubbies

E voltando só um bocadinho ao início...em jeito de despedida, queria usar novamente a palavra lenda. Imagino que muita gente possa discordar, mas para mim é difícil falar muito de Joel Constantino sem o indicar como uma autêntica lenda da dobragem portuguesa. Quer dizer, são muitos trabalhos, durante muitos anos, e com muitas personagens marcantes muito diferentes. E, admito, o facto de nem a Wikipédia lusa ter tido uma página para Joel Constantino durante anos a fio (e, à data deste post, acho que ainda não tem...) também contribui para um certo mistério no ar. E para fazer um cidadão comum ver um dobrador como um mito. No bom sentido, claro!

Ainda que muito atrasado, digo: vá em paz, sr. Constantino. E condolências à família.